quarta-feira, 23 de março de 2011

Uma Árvore Me Contou




Uma árvore me contou
Que tem gente louca atrás da gente
Seus olhos chorosos brilhavam como os olhinhos de uma criança assustada.
Uma árvore me contou que o mundo é quente, que as estrelas não brilham mais
De comparações loucas uma árvore me contou.
E, naquele dia chovia muito.
E não tinham ídios.
E não tinham animais.
E só tinham selvagens. Homens.
Um árvore me procurou em tamanho desespero
Como quem procura refúgio no colo da mãe numa noite escura.
Uma árvore me contou que as coisas cinzas estavam maltratando o verde que já nem é mais vivo.
E que os caminhos trilhados eram de exercitos humanos contra o planeta Terra.
Tudo indo tão mal. Essa é a sua casa.
Uma árvore me contou que já não existem mais flores, nem sorrisos. Nem sentido.
Que o astro rei estava velho demais, no seu cansaço milenar.
E os duendes? Como ficarão os gnomos? Os faunos e os centauros?
Onde estarão agora os sátiros e as fadas para vos salvar?

Estou queimando.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Esses Meus Olhos de Águia


Não se amedronta por olhar nos olhos de alguém com o triste e pavoroso pseudônimo de águia?
Não temes que sejas enfeitiçado por uma magia sem volta?
O meu misticismo está nos meus olhos
Também no pico dos meus lábios onde você se encaixa e se desmancha.
Quando eu te tocar e o seu corpo arder em chamas
Saibas que são as minhas asas a te queimar e te torturar.
Quando tu se perder em mim, não me culpe.
Dentro do meu eu mulher se esconde algo inimaginável.
Se o meu olhar te mata, nada lamento.
Com o meu toque posso reviver-te;
Para que tu possas morrer me querendo,
Sucessivamente;
Interminavelmente.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Um Cavaleiro de Saias

Eu nasci frágil
Submissa, obediente.
Eu fui ningúem.
Sem papel nesse filme da vida.
Me acovardei deixando a minha cabeça baixa e falando de voz fraca.
Até que não aguentei.

E na minha adolescência...Ah a minha adolescência!
Na minha juventude minha cabeça borbulhando de ideias.
Dei minha cara a tapa.
Lutei.
Batalhei.
Queimei o meu soutien e o meu espaço fui conquistando.
Será que fui?
Que tolice a minha!

Aqui estou eu, já na minha idade adulta... Continuo lutando.
Hoje sou de soldado à general.
A cada louça que lavo. A cada relatório entregue no trabalho.

E eu conquistei?
Ah Deus, minha vida está passando!
Continuo, indiretamente, submissa.
Ainda sou frágil.

Quem sabe quando a velhice chegar,
terei a tão sonhada liberdade.
Será ela um mito?
Já faz tanto tempo desde que a apresentaram a mim, mas eu nunca a vi...
Talvez um dia eu a alcance... ou não.
Pode demorar... ou não.

Sei de mim, que não desistirei.
Nem minhas filhas,
as filhas de minhas filhas
e nem as filhas das filhas de milhas filhas.

Afinal, sou mulher então.