Hoje, vinha eu da escola calçada por um par de tênis de marca e com os cabelos bem penteados.
Subi a rua com a testa suando, culpa daquele curta-metragem de arte que foi filmado numa câmera digital que custou no mínimo R$500,00. Meu estômago reclamava, haviam duas horas e meia que eu não botava nada na boca.
Vinha eu pensando na minha vidinha sofrida de ter que ir trabalhar depois da aula á que estava muito cansada, quando ouvi em alto e em bom som a voz esganiçada de uma mulher. Ela gritava:
_Tem droga aqui? Tem droga aqui?
Acordei dos meus hipócritas pensamentos e a minha visão captou uma mulher descalça, que usava roupas sujas, surradas e tinha os cabelos curtos e ásperos na cabeça. Essa tal mulher, levava em suas costas um saco de mais ou menos um metro e meio. E minha visão assustada pela imagem da mulher captou quando aquele ser, euforicamente, arremeçou o saco, escancarando-o, deixando à mostra garrafas, latinhas e papelão.
Os gritos da mulher eram cada vez mais fortes, enquanto as pessoas que ali estavam, berravam insultos a seu respeito.
_Sua bêbada!
_Louca!
_Vai trabalhar vagabunda!
_Sua doida!
A mulher parecia não ouví-los, ignorava-is e continuava a gritas e a balançar seu humilde saco.
Eu, diante da situação, passei o mais rápido possível pelo local, para que nenhum objeto reciclável não acertasse, impropositalmente, minha cabeça.
E a mulher a berrar:
_ Tem droga aqui? Tem? Onde? Tem droga aqui?
Confesso eu, vermelha de vergonha da minha estupidez, que quando ultrapassei a mulher, nem olhei para trás, assustada ta
lvez.
Então mais uma vez a mulher gritando, enquanto subia a outra rua, deixando para tras todo o seu material de trabalho.
_Carai de mundo! Carai de mundo!
Ao ouvir isso, queria eu correr até a mulher e abraçá-la. Não por ela estar no lugar onde estava, não por ela ser uma catadora, mas sim, por ela ser uma de nós que percebeu onde estamos. Queria eu abraçá-la e dizer:
_Sim, estamos num caralho de mundo!
Então leitor, deixo uma pergunta pra você:
Como está a sua vidinha de merda?